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A Jornada do Voto por Rodrigo Mendes

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17/07/2024 às 17h58
Por: Da Redação
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A Jornada do Voto por Rodrigo Mendes

 

A jornada do voto é o caminho que leva o eleitor da total apatia e indiferença à identificação com algum candidato (ou rejeição a outro) e a decisão de voto. Este artigo é sobre esta estrada, que pode ser cheia de curvas e buracos, mas que termina no dia da eleição (mesmo que seja para o eleitor se abster). 
Para pensar na jornada do voto, recorro a uma dupla de variáveis comumente utilizadas nas pesquisas quantitativas: o nível de conhecimento dos candidatos e o potencial eleitoral. A escala de conhecimento vai de “não conheço”, passa por “ouvir falar” e chega a “conheço” ou “conheço bem”. Já o potencial eleitoral vai de “não votaria de jeito nenhum” – rejeição, “poderia votar” e “votaria com certeza”. Tendo como guia estas métricas, é possível pensar esquematicamente como enquadrar a maior parte do eleitorado ao longo do tempo da pré-campanha e da campanha eleitoral. 
O objetivo do marketing aplicado à campanha deve ser, nesta linha de raciocínio, tirar o candidato do desconhecimento (se, por hipótese, trata-se de um desconhecido que está sendo lançado pela primeira vez) e levá-lo a ser conhecido. E evoluir de uma situação de rejeição associada ao desconhecimento (não conhece e não vota) para o “votaria com certeza”, que seria a conjugação de conhecer ou conhecer bem o candidato e votar.  

O modelo que estou propondo de jornada do voto seria:  
    
 
Em termos temporais, as fases 1 (Atrair) e 2 (Agregar Valor) ocorrem na pré-campanha e as fases 3 (Diferenciar) e 4 (Converter e Multiplicar) estão na campanha.  
  
Primeira Fase – Atrair 
O objetivo é romper com a apatia e a indiferença que predomina na grande maioria dos eleitores. Trata-se de chamar a atenção dos votantes para a existência do pré-candidato. Mostrar que ele existe, apresentar, fazer com que seja notado e seu nome passe a soar minimamente familiar. A melhor forma de produzir este efeito é de forma indireta ou flanqueada através da geração de conteúdos que se relacionem com os interesses, temas, valores, crenças, problemas e aspirações dos eleitores ou segmentos destes. Pensa-se já em iniciar o processo de transformação do pré-candidato em uma autoridade e liderança em alguma área (seja um tema, uma região etc.). A decisão de voto se baseia em uma “racionalidade de baixa informação” ou “racionalidade instintiva” fundamentada nas experiências passadas do indivíduo, nas suas crenças, valores e em conhecimentos. A ideia é, portanto, gerar atração por identidade e semelhança através do mecanismo da transfusão, ou seja, utilizar o conhecimento prévio sobre o perfil demandado e desejos e necessidades dos eleitores para construir uma imagem para o candidato e uma pauta de conteúdos conectados com estas expectativas pré-existentes. Na escala de conhecimento, o objetivo é sair do “não conhece” e evoluir para o “ouviu falar”.  
Resumo: Dialogar com os interesses e as emoções pré-existentes e preponderantes.         
 
Segunda Fase – Agregar Valor 
Depois de atrair simpatizantes, o objetivo passa a ser agregar valor à imagem do pré-candidato. Associar mais claramente a sua imagem a temas, bandeiras, solução de problemas dos eleitores. Ou eventualmente, fazer a ligação do candidato com um dos lados da polarização, seja na esquerda ou na direita e os valores e crenças associados a cada posição. Existe a posição de centro, mas que acaba por atrair pouco, em função da conformação dos algoritmos das redes sociais, que acabam por favorecer as posições mais extremadas. Trata-se agora de fixar a mensagem e a imagem do ponto de vista cognitivo e emocional de modo a começar a construir a reputação do pré-candidato. Na escala de conhecimento, o movimento que se busca é sair de “ouvir falar” para “conhece” e de “não votaria”, por desconhecer para “poderia votar”.  
Resumo: Associar o candidato com bandeiras e temas chaves, assumir um lado.         
 
Terceira Fase – Diferenciar          
O eleitor médio tem pouco envolvimento e baixo interesse pela política e recorre a atalhos cognitivos para reduzir o custo de se informar. As campanhas eleitorais são acompanhadas pelos indivíduos de maneira irregular e superficial. As informações que os indivíduos colhem ao longo do processo ficam dispersas, desorganizadas, descontextualizadas e cheias de lacunas.  Cabe ao marketing a tarefa de oferecer atalhos cognitivos – uma mensagem-chave e uma narrativa coerente - que preencham as lacunas existentes e organizem o conjunto de “pistas” dispersas na mente dos eleitores. 
Nesta terceira fase, já em campanha, temos um candidato e é possível pedir o voto. O objetivo é apresentar as ideias principais, as propostas, o programa de governo do candidato e massificar as mais importantes. O lançamento oficial da candidatura, a fixação de um slogan com a mensagem–chave, estruturando uma propaganda visualmente atrativa, ajuda a reforçar as duas fases anteriores. 
Contudo, marketing não se limita a satisfazer desejos e necessidades através de um processo de troca (Kotler), baseia-se fundamentalmente em diferenciação competitiva e posicionamento (Ries/Trout). Sendo assim, é essencial oferecer aos eleitores argumentos e atributos que mostrem o seu candidato como melhor e mais merecedor de confiança que os demais. Nesta fase, o eleitor já deve ter condições de comparar o candidato com os demais candidatos. Na escala de conhecimento, o candidato já deve estar no valor “conhecido” ou até “conhece bem” e no potencial, ou seguir no “poderia votar” ou já estar no “vota com certeza”.     
Resumo: Associar os adversários com os defeitos identificados pelos votantes e estabelecer uma diferenciação competitiva.  
 
Quarta Fase – Converter e Multiplicar  
Na fase final da campanha, os últimos 30 dias, boa parte dos eleitores já conhecem os principais candidatos e já existe um contingente razoável que se decidiu por alguém ou está decidindo (mesmo que muita gente ainda permaneça indecisa). A questão aqui é fixar os atributos fundamentais que favoreçam o voto em favor do candidato, oferecer argumentos fortes e impactantes e reforçar as comparações com os adversários. Neste momento, a fixação do número é importante. É hora de utilizar os chamados call to actions, de mobilizar para as manifestações de massa que demostrem força e união para contagiar os indecisos.  
Trata-se, neste momento, de garantir o voto dos eleitores que já se declararam, de buscar os indecisos e de ativar os eleitores para que se transformem em multiplicadores da sua mensagem e passem a auxiliar na tarefa de buscar os ainda indecisos. Na escala de conhecimento-potencial, espera-se que o eleitor “conheça bem” o candidato e “vote com certeza”.           
Resumo: chamar para a ação, fixar o número, ativar os multiplicadores.   
Para concluir, é importante reforçar que cada uma destas etapas exige tempo e maturação e “pular etapa” não ajuda em nada, só prejudica a performance. Na pré-campanha se planta, na campanha se colhe, essa é a máxima! A pré-campanha é essencial para apresentar o candidato e torná-lo conhecido, criar autoridade, associar o pré-candidato a temas, bandeiras e valores caros ao eleitor para se chegar no momento da “colheita”, na campanha propriamente dita, com uma terra bem arada, com os nutrientes corretos, e plantas sadias e com tamanho certo para serem colhidas no momento exato.  
Por fim, quando se entende a jornada do voto, fica ainda mais claro a centralidade da estratégia, do plano geral que vai ser utilizado para se chegar bem (com número de votos necessários) no fim do trajeto. A estratégia é o planejamento que liga o começo do caminho (o desejo de ser candidato) com o seu fim (o objetivo – o voto).  

*RODRIGO MENDES é estrategista de marketing político e comunicação pública e institucional com 25 anos de experiência. Coordenou 60 campanhas eleitorais e prestou consultoria para diversos governos, instituições, lideranças e empresas. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing e mestre em Ciência Política. Autor de “Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais”; “Marketing Eleitoral – Aprendendo com campanhas municipais vitoriosas” e dos e-books “A falha na distribuição da comunicação”; “O eleitor subconectado e a realidade do marketing eleitoral no Brasil”; “Marketing Governamental”; “Novas estratégias eleitorais para um novo ambiente político” e “DataMídiaPerformance”.       
     

 

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Rodrigo Mendes em Comunicação e Marketing
Sobre o blog/coluna
Estrategista de Marketing Político com 25 anos atuação em mais de 60 campanhas eleitorais em todo Brasil. Foi secretário de Comunicação do Mato Grosso do Sul. Consultor das Assembleias Legislativas de Minas e Paraíba e dos Governo de Alagoas e Sergipe. Consultor do Tribunal Superior Eleitoral, responsável pela Campanha Vota Brasil. É publicitário, sociólogo, especialista em marketing, pesquisas de opinião, comunicação pública e mestre em Ciência Política. Autor do livro Marketing Político – o poder da estratégia nas campanhas eleitorais e mais de 300 artigos sobre comunicação e marketing político. É Professor da School of Corporate Reputation/Angola e foi professor da pós-Graduação em Marketing Político da UFMG.
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